Já dizia o imortal Caetano, na antológica música: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
É. Só quem sente sabe.
E a grama do vizinho não é tão verde, nunca é, quanto parece de longe. Tem que pisar, todo dia, em diferentes estações e tempos, para saber. Tem que ser bem de pertinho, dentro do jardim.
As redes sociais, por exemplo. Elas adoram exibir jardins verdejantes, gramas brilhantes: a pessoa só seleciona aquilo que quer mostrar. Às vezes, acaba criando um personagem bem diferente do “real”. Seja para o bem ou para o mal.
E também fora da tela do computador a gente, querendo ou não, ostenta, mostra, aparenta. Por vezes nem nos damos conta da imagem que passamos. Alguns, por outro lado, fazem questão de parecer o que sabem que não são (ou acham que são, mas não são). Cada um tem sua grama verde para olhar e almejar. Cada um sabe o quanto sua grama não é exatamente o Jardim do Éden.
Uma coisa eu aprendi: todo mundo tem seus calcanhares de Aquiles, suas dores, suas sinas. Deus deu a cada um caminho de aprendizado e evolução. Não queiramos ser os outros, mas o melhor que cada um de nós pode ser. Isso exige saber, em primeiro lugar, quem somos de verdade. Meio clichê, mas é: viver é se descobrir, e se descobrir é realmente viver.
E enquanto você olhava a grama verde do vizinho, seu jardim virava mato e até secava…
Não olhe demais para o lado.
Olhe para dentro: seu coração bate, sussurra todo dia segredos e sentimentos (secretos) que às vezes você insiste em ignorar. Está ocupado demais olhando o outro.
Mas lá, em seu singelo peito nu, está o que importa: quem você é. Deixa eu repetir: olhe sempre seu coração. Não passe a vida mirando, incólume, a grama verde (que nem tão verde é) do vizinho. Cada um tem seu caminho.
E cada um sabe a dor e a delícia de ser quem é. Às vezes mais dor, outras vezes mais delícia.
Felicidade é isso: recomeçar sempre, equilibrando-se entre o bem e o mal. Entre querer ser e ser.
No mais: cultive sua grama, seu jardim, não para os outros, mas para você e os que você ama.
Agora deixa eu também tentar seguir esses conselhos.
Que eu sou humana, demasiado humana para não cobiçar o que o outro tem; e cobiçamos, até que tenhamos um dia, quem sabe, e cobicemos outras coisas.
Nunca basta, quando não nos bastamos.